Futebol Recordação: Internacional campeão brasileiro de 1976

Primeiro eu gostaria de dizer ao Danilo que está sendo muito gratificante estar aqui no Pitacos do Bodaum fazendo os quadros Conhecendo a Vizinhança e Futebol Recordação. A aceitação por parte dos amigos blogueiros e leitores do blog está sendo boa, assim como da minha parte, está sendo muito bom poder manter o Pitacos na ativa.

Recebo as palavras do Danilo com a maior satisfação e reitero o que eu já disse pra ele, dessa vez dizendo a todos os leitores do Pitacos do Bodaum: que ele, Danilo Damasceno, volte o quanto antes a ativa na blogosfera. O Chat Blogs Futebol Clube e o mundo dos blogs, com certeza sente a sua falta, meu caro.

E depois de relembrarmos o título de campeão brasileiro do Atlético-MG em 1971 (veja aqui), do Palmeiras em 1972 (veja aqui), novamente do Verdão em 1973 (veja aqui), do Vasco em 1974 (veja aqui) e do Internacional em 1975 (veja aqui) chegou a vez de postarmos a segunda dobradinha de títulos do Brasileirão. Definitivamente, a segunda metade da década de 70 pertenceu ao Colorado dos Pampas.

Internacional campeão brasileiro 1976



Como dito no post sobre o titulo colorado de 75, havia um projeto para tornar o Sport Club Internacional o maior clube do Brasil, pelo menos naquela época. Às vistas de todo o país, isso realmente acontecia. A começar pela construção do Gigante da Beira-Rio em 1969, palco pra pôr em prática esse projeto ambicioso.

À nível estadual, o ano de 1976 foi um marco na história do clube. Justamente naquela temporada, o Inter completava a incrível marca de oito títulos consecutivos de campeão gaúcho, se tornando o primeiro octacampeão estadual do país. E os números estrondosos não param por aí. Por exemplo, no Gauchão de 1974, uma campanha histórica: 18 jogos, 18 vitórias. Um dos títulos mais indiscutíveis desde o surgimento do futebol.

Quando o assunto era no âmbito nacional, o Inter também não queria ficar pra trás. A base do time que encantou o Brasil um ano antes foi mantida para a disputa de mais um Brasileirão. Nomes de respeito como o do goleiro Manga, do zagueiro e capitão Figueroa e do craque do time Falcão permaneceram fazendo do Internacional um dos times mais temíveis praquela edição, além claro, de ser o atual campeão. E para fortalecer mais, ainda teve a chegada do Atacante Dario Peito de Aço (ou Dada Maravilha, como preferir). Era ou não um time de impor medo?

Fato curioso: Torcida Corintiana invade Maracanã colocando mais de 60 mil torcedores

O jogo era pela semifinal do referido campeonato e a Fiel chegou com muita força na cidade do Rio de Janeiro. O objetivo era ser maioria no estádio do Maracanã pro jogo contra o Fluminense. Tudo isso se deveu a uma provocação do presidente Tricolor, que disponibilizou 70 mil ingressos para a torcida paulista e duvidou que mais de 30% fossem adquiridos. Os corintianos compraram quase 100%. O público total da partida foi de mais de 146 mil pessoas.

Para esse post, coletei um depoimento de um senhor torcedor do Fluminense que presenciou de perto essa invasão:



“Foi um domingo completamente diferente no Rio de Janeiro. Pela manhã, eu e minha esposa pegamos meu Fusca e saímos de casa (no bairro da Glória) a caminho da praia do Leblon. Era comum a gente ver muito ônibus de viagens, já que na Zona Sul do Rio de Janeiro, ainda mais naquela época, não havia dia certo pra chegada de turistas. Mas aquele dia específico estava diferente.

Chegando à praia, já fiquei nervoso. Tive que deixar meu carro numa distância imensa de onde costumava ficar. Eu tinha um local certo na areia pra colocar minha barraca e uma área determinada pra parar meu carro. Na orla, um congestionamento terrível. Era ônibus que não acabava mais. Uma fila interminável. Uns estacionados no encostamento e outros chegando. Pensei que não fosse parar de chegar paulista no Rio de Janeiro naquele dia. Eles atrapalharam demais o trânsito. Muito carioca deixou de ir à praia aquele dia com certeza. Na areia também, só dava branquelo com camiseta preta escrito Gaviões da Fiel nas costas.

Lembro que perto de alguns quiosques, eles deixaram seus instrumentos. Batuques, bandeirões e muita, mas muita tralha. Acho que eles tinham mais objetos que a torcida do meu Fluminense.

Eu não estava decidido a ir naquele jogo, mas o que eu vi pela manhã na praia do Leblon, me fez mudar de idéia. Eu fui pro jogo. Testemunhei um fato jamais imaginado em anos freqüentando o Maracanã: fomos invadidos por uma torcida paulista. Eu como cidadão carioca e torcedor fanático do Fluminense, já me senti humilhado antes mesmo do jogo começar. Em minha opinião, a Polícia Militar não podia de forma alguma deixá-los entrar no estádio naquela quantidade.

Quando o time do Fluminense entrou no gramado, eu, da geral, pude perceber: os jogadores levaram um susto. Aquela massa preta e branca espantou o meu time, que era melhor que o do Corinthians. Acho que os próprios corintianos reconheciam isso na época. O jogo foi empate, né... Mas olha, já era motivo de festa pra eles terem empatado com a Máquina Tricolor dentro de casa. Agora te digo mais, essa tal de Gaviões da Fiel ganhou o jogo nos pênaltis. Poxa, se desde cedo, lá na praia, eles já estavam fazendo um carnaval tremendo, tomando caipirinha, gritando, berrando, tinha até uns malucos pulando na areia... Imagina o que não fizeram, com metade da arquibancada tomada, na hora da decisão dos pênaltis... Eles conseguiram assustar o Rio de Janeiro.”

Regulamento

A força da política militar mais uma vez tinha entrando em ação com muita força, conseguindo com que o campeonato passasse a ter 54 equipes.

A exemplo do que aconteceu no ano anterior, com a diferença apenas no maior numero de times, foram três fases tendo uma repescagem entre a primeira e a segunda. Após esse momento classificatório, duas semifinais e uma final.

Uma das semifinais foi entre Fluminense x Corinthians no Rio de Janeiro, vencida pela equipe paulista. A outra foi entre Internacional x Atlético-MG no Rio Grande do Sul com vitória dos gaúchos.

A grande final



O Timão vinha muito empolgado pra sua primeira final de Campeonato Brasileiro. No jogo realizado no Beira-Rio, não foi possível repetir a façanha de invasão. Comparado com o que aconteceu no Maracanã, o número de corintianos na casa colorada era bem reduzido.

Já pelo Internacional, a euforia era imensa. Aquela massa vermelha vislumbrava um time escrevendo uma história magnífica. Naquele momento, o Inter já era um grande vencedor do futebol brasileiro. Além de títulos, o que mais atraia as pessoas por aquele time, era o futebol vistoso e bem jogado.

Logo no primeiro tempo, aos 29 minutos, Dario Maravilha abriu o placar pro Internacional. Nas palavras de Fiori Gigliotti, ainda era cedo pra torcida corintiana se desesperar imaginando-se derrotada, da mesma forma que ainda não era o momento dos colorados já comemorarem o título. Ouça a narração do primeiro gol da final na voz desse lendário narrador da Rádio Bandeirantes:



No segundo tempo, aos 12 minutos, Valdomiro completou o placar dando números finais a mais uma decisão de Campeonato Brasileiro. Mais um título pro Internacional.

Nos momentos finais da partida, ouve uma grande confusão dentro de campo provocada pelos jogadores do Corinthians. Dias antes da decisão, dirigentes do Timão ao lado da imprensa paulista, pressionavam a CBD para que o jogo final acontecesse num campo neutro. Os paulistas sugeriram, inclusive, o Maracanã, acreditando que uma nova invasão pudesse acontecer.

Nada disso aconteceu. Com o jogo sendo realizado no Beira-Rio, a vitoria foi mesmo dos donos da casa. E aos gritos de “ai, ai, ai ai, ta chegando a hora. O dia já vem, raiando meu bem, eu tenho que ir embora” foi a torcida do Inter que, chegou a final e terminou rindo mais alto, comemorando o bi-campeonato do time.

Festa vermelha nas ruas de Porto Alegre pelo segundo ano consecutivo. Falcão, Figueroa, Dada Maravilha e Cia, contemplavam um dos maiores times já formado no futebol brasileiro.

Dados do jogo final

Internacional 2x0 Corinthians
Local: Beira-Rio (Porto Alegre)
Juiz: José Roberto Wright (RJ)
Renda: CR$ 3.200.795,00
Público: 84.000 espectadores

Internacional



Em pé: Manga, Claudio, Figueroa, Vacaria, Marinho Perez e Falcão.
Agachados: Valdomiro, Jair, Dario, Caçapava e Lula.

Corinthians: Tobias; Zé Maria, Moisés, Zé Eduardo e Vladimir; Givanildo, Ruço e Neca; Vaguinho, Geraldão e Romeu
Técnico: Duque

Campanha do Campeão

Foram 23 jogos. Como aquele time era o de marcar incríveis, essa campanha não seria uma mera campanha. O Inter venceu 19 jogos, perdeu apenas 3 e empatou somente um. Fez 59 gols e levou apenas 13. Absoluto!

Jogadores que fizeram parte da campanha

Goleiro: Gasperin, Ito e Manga
Laterais: Chico fraga, Cláudio, Vacaria e Zé Maria
Zagueiros: Figueroa, Gardel, Hermínio e Marinho Peres
Meio Campistas: Batista, Caçapava, Escurinho, falcão, Lair, Luis Fernando e Pedro
Atacantes: Dario, Lula e Valdomiro
Técnico: Rubens Minelli