Futebol Recordação: Vasco campeão brasileiro de 1974

Tocando o Futebol Recordação no ritmo festivo dos títulos brasileiros que são momentos importantes a ser lembrado pelos torcedores, o blog Pitacos do Bodaum traz o histórico do Brasileirão de 1974.

Pela primeira vez, um time do Rio de Janeiro, o Vasco da Gama, comemorava um título brasileiro. De forma inédita também, tivemos uma final recheada de polêmicas, que até os dias atuais ainda traz muita discussão sobre a legitimidade do título vascaíno. Para os cruzeirenses, os acontecimentos em torno da final daquele ano, representam um assalto contra o clube mineiro.

Vasco campeão brasileiro de 1974



Para os vascaínos e fãs de Roberto Dinamite, o ano de 1974 é marcado duplamente. Além de ser o primeiro título brasileiro do Vasco do Gama, foi o ano em que Dinamite despontou pro futebol, sendo o goleador do brasileirão com 16 gols.

E a fórmula do time campeão era a junção de jogadores experientes e técnicos com jovens promissores, como o próprio Dinamite, além de Zanata, que foi revelado pelo rival Flamengo. A experiência nessa equipe ficava por conta do goleiro argentino Andrada, o volante Alcir Portela e o lateral Fidélis. Outros nomes que foram importantes na campanha foram os de Alfinete, Ademir, Luis Carlos e Jorginho Carvoeiro.

Fatos curiosos

Um fato que já criticamos no primeiro post dessa série, que fala do título do Atlético-MG em 1971, voltou à tona. E dessa vez foi pra valer, fazendo parte do regulamento. Pois bem, estamos falando da renda ser usada como critério de classificação.

Na primeira fase, duas equipes puderam avançar na competição por terem as maiores rendas entre os que não ficaram nas primeiras colocações. E como o torneio teve duas fases antes do quadrangular final, a exemplo do acontecido no ano anterior, era preciso adotar critérios para eventuais empates na tabela de classificação. Se dois times empatassem no número de pontos, o absurdo fator de renda também serviria para definir a equipe classificada. Fluminense e Nacional-AM foram diretamente beneficiados por esse regulamento estapafúrdio.

E as curiosidades não param por aí. Havia a promessa do número de 40 clubes (adotado em 1973) sofrer um aumento para a edição de 1974. Mais uma vez impulsionado pelo governo. Mas por ser ano de Copa do Mundo, a vontade autoritária foi deixada de lado e as atenções dos políticos militares se voltavam para a seleção brasileira, que buscava o tetra campeonato mundial.

Regulamento

O Campeonato Brasileiro repetia alguns pontos do regulamento do ano anterior, porém foram acrescentadas algumas maluquices, que até hoje é difícil acreditar que realmente aconteceram.

Os 40 clubes foram divididos em dois grupos. Vinte pra cada lado. O dez melhores colocados passariam para a segunda fase, além dos dois times mais próximos na classificação, independente do grupo, e também os dois times com maiores rendas. É exatamente essa doideira que você acabou de ler...

Na segunda fase, o Campeonato ficou com uma cara mais séria. Não houve nenhuma bizarrice para garantir a classificação para o quadrangular final. Os 24 clubes foram divididos em quatro grupos com seis times cada. O campeão de cada chave se classificava.

Na segunda fase, já haviam abandonado a renda como critério de desempate. No quadrangular final, caso as duas melhores equipes empatassem nas suas campanhas, haveria um jogo extra. E foi o que aconteceu. Vasco da Gama e Cruzeiro conquistaram a mesma quantia de pontos e fizeram então uma final recheada de acontecimentos duvidosos, reclamação, protesto, lamentações do lado mineiro e comemoração do lado carioca.

A grande final



Havia um sentimento de vingança no ar. A torcida do Cruzeiro exigia que seus jogadores entrassem em campo e vencessem o Vasco dentro do Maracanã para assegurarem a honra e a dignidade cruzeirense. Mas não foi o que aconteceu.

Tudo isso se deveu a partida entre os dois clubes no quadrangular final. No jogo realizado no Mineirão, após um suposto pênalti não marcado em Palhinha, o técnico Hilton Chaves e o dirigente Carmine Furletti invadiram o campo para reclamarem pesadamente contra o árbitro da partida, Sebastião Rufino, do Pernambuco.

Como os mineiros tinham uma quantidade de pontos acumulados maior que o Vasco nas fases anteriores, esse jogo extra aconteceria no Mineirão. Mas os dirigentes vascaínos recorreram a esse direito do Cruzeiro, baseado na invasão de campo que aconteceu na partida envolvendo as duas equipes no quadrangular. A CBD atendeu ao pedido carioca, fez valer a punição prevista no regulamento para casos de invasões de campo e transferiu o jogo para o Rio de Janeiro, no estádio do Maracanã. Enquanto os vascaínos transbordavam de alegria, por poderem acompanhar a final de perto, a raiva tomou conta dos azuis.

E com o clima de guerra que envolvia essa partida, a tranqüilidade para jogadores e trio de arbitragem realmente estaria em falta. Apesar disso tudo, na medida do possível, os torcedores que compareceram, puderam acompanhar um bom jogo de futebol, com bons toques de bola.

Após abrir o placar com Ademir, o Vasco ainda teve um gol anulado, por impedimento. Na sequência, o Cruzeiro chegou ao empate com Nelinho. Faltando pouco mais de dez minutos para o fim da partida, os cruzmaltinos desempataram o jogo com Jorginho Carvoeiro. Daí em diante, o goleiro argentino Andrada abusava da cera. O tempo todo ele caía no chão e ficava rolando de um lado pro outro no gramado.

Faltando poucos minutos para o fim, o Cruzeiro conseguiu novamente empatar a final, mas o juiz do jogo, Armando Marques, de São Paulo, anulou o gol cruzeirense. Até hoje há muita dúvida no motivo dessa anulação. O único ângulo de TV que há registrado do lance, percebe-se que não houve impedimento, muito menos falta em alguém do Vasco. E para piorar, Armando Marques acabou o jogo sem dar os acréscimos que serviriam para descontar o atraso do jogo causado pelo goleiro Andrada.

Por esses motivos apresentados, os cruzeirenses reclamam até hoje das decisões tomadas nos jogos finais do Campeonato Brasileiro de 1974. Sem nem se preocupar com isso, Roberto Dinamite e Cia comemoraram o primeiro título vascaíno de campeão brasileiro. Invasão dos torcedores no gramado e muita festa para coroar a conquista vascaína.

Dados do jogo final

Vasco 2x1 Cruzeiro
Local: Maracanã (RJ)
Juiz: Armando Marques (SP)
Renda: CR$ 1.413.281,00
Público: 112.933 espectadores

Vasco



Em pé: Andrada, Miguel, Alcir, Fidélis, Moisés e Alfinete.
Agachados: Jorginho Carvoeiro, Zanata, Ademir, Roberto e Luiz Carlos.
Técnico: Mario Travaglini.

Cruzeiro: Vitor; Nelinho, Perfumo, Darci Menezes e Vanderlei; Wilson Piazza, Zé Carlos e Dirceu Lopes; Roberto Batata, Palhinha (Joãozinho) e Eduardo (Baiano)
Técnico: Ilton Chaves.

Campanha do campeão

Em 28 partidas, o Vasco comemorou a vitória em 12 oportunidades, lamentou a derrota em quatro e abusou do empate. Foram 12 também. Balançou as redes adversárias 33 vezes e se irritou 18 vezes tomando gol do adversário.

Jogadores que fizeram parte da campanha

Goleiro: Andrada e Carlos Henrique
Laterais: Alfinete, Fidelis, Gilson Paulinho e Paulo César
Zagueiros: Joel, Miguel e Moisés
Meio Campistas: Ademir, Alcir, Fred, Gaúcho, Marcelo, Peres e Zanata
Atacantes: Amarildo, Bill, Galdino, Jaílson, Joeginho Carvoeiro, Luis Carlos e Roberto Dinamite
Técnico: Mario Travaglini

No dia oito de agosto desse ano, o ídolo, artilheiro e presidente do Vasco da Gama, Roberto Dinamite, juntou os jogadores que conquistaram esse título tão importante para a história do clube e comemorou os 35 anos desse fato marcante, em pleno gramado de São Januário. Abaixo a foto do festejo: